
Temos ouvido cada vez mais trabalhadores se queixarem de que se sentem cansados, esgotados, estafados. Ouvimos queixas de que se sentem desmotivados, “fracos” e com sentimento de “menos valia” no trabalho e também em outros aspectos da vida. Há ainda os que relatam sensação de que agem de forma mecânica, robotizada. Esses sentimentos e sensações indicam que é hora de acender o sinal amarelo! Isso tudo não pode ser considerado um simples estresse e/ou exaustão do cotidiano. Não é!
É muito provável que o trabalhador que se queixa dessa forma seja portador ou esteja enfrentando a síndrome de burnout. Importante ressaltar que não necessariamente o portador da síndrome seja também portador de outras doenças emocionais, mas é fato que a ansiedade e a depressão, por exemplo, geralmente acompanham ou estão entrelaçadas ao burnout. As estatísticas indicam que aproximadamente 85% das pessoas depressivas são, também, portadoras da síndrome de burnout[1].
O burnout é uma doença relacionada ao trabalho – e que pode acometer qualquer trabalhador, independentemente de sexo, idade, e de classe social. Entretanto, é mais comumente vivenciado naqueles trabalhadores que se ativam sob forte e intensa pressão; que precisam “bater” metas; que lidam com vidas e com a segurança de outras pessoas; naqueles que são costumeiramente “perseguidos”, humilhados e desprestigiados no ambiente de trabalho.
Mas, independentemente dos fatores estressantes e angustiantes nos quais está inserido o trabalhador, sobre os quais, no geral, não se tem controle, há de se reconhecer que a síndrome é típica do viver contemporâneo: a sociedade moderna valoriza sobremaneira o trabalho, ignorando e marginalizando aqueles que se encontram fora do mercado. Valoriza todo aquele que, como se diz, se “mata” de trabalhar; alguém que diga que não “tira” férias há dois anos, por exemplo, é visto com bons olhos pela sociedade. Alguém que pergunte sobre outra pessoa geralmente se depara com respostas do tipo “ela é médica do Hospital X”; “ele é engenheiro da empresa Y” (antes mesmo de ouvir o nome da pessoa). O trabalho se tornou o referencial do “ser” humano.
Algumas características da síndrome de burnout: primeiro, e conforme nos ensina a Dra. Christina Maslach, PhD (EUA), pioneira no estudo sobre burnout no local de trabalho[2], a síndrome não deve ser vista apenas como uma doença mental, com enfoque simplesmente clínico; trata-se de um problema social, que precisa, portanto, ter um enfoque social, a começar por dar mais ênfase a tornar salubre o ambiente de trabalho, a tornar saudáveis as relações de trabalho, isto é, o ambiente onde está inserido aquele trabalhador.

Depois, importante ressaltar que algumas características “contribuem” para o surgimento e cronicidade da síndrome: falta de foco; trabalhar em excesso (“não faça horas extras” – conforme nos ensina a especialista em referência); lado espiritual pouco ou nada apreciado e desenvolvido; dificuldade em buscar ajuda e conselho (“enxergar a importância dos outros” – também conforme a especialista acima); isolamento social; avaliação negativa de si mesmo.
E por onde “passa” o caminho e as alternativas para minimizar ou mesmo evitar essa síndrome? Antes de tudo, reconhecer-se como alguém que precisa de ajuda; depois, buscar, por exemplo, na meditação e na terapia cognitivo comportamental, formas de lidar com as adversidades que a vida traz; autoconfiança e resiliência também são fundamentais.
A prática de mindfulness[3] pode ser um importante aliada na busca por neutralizar e tratar a síndrome de burnout.
Siga em frente, acreditando que não! – o trabalho não é a única fonte de realização e prazer: é preciso encontrar e perceber novas formas de se relacionar com as pessoas e com o mundo, se respeitando (inclusive os próprios limites) e se valorizando como ser humano.
Melissa Tonin – 24/08/2017
[1] 17º Congresso Trabalho, Stress e Saúde – Soluções para o Burnout – da teoria à ação; junho/2017 – Porto Alegre/RS.
[2] Idem
[3] Termo que pode ser traduzido por “atenção plena”, ou “mente atenta”; prática que busca justamente se conectar e reconectar ao presente, porque, como ensina a psicóloga Danniela Sopezki, psicóloga instrutora de mindfulness, no Congresso já aqui referido, “passado é ruminação; futuro é preocupação; o momento presente é um lugar mais seguro”.